Entrevista com Denys Carrilho


1. Qual foi o motivo para você estudar matemática e física?

D: Sobre a matemática, pra ser sincero, foi influência de família. Lembro-me muito bem de quando era criança, pensem em 5 ou 6 anos, a maior brincadeira entre os primos e irmãos eram cálculos com calculadora e meus tios e avós sempre fazendo perguntas. 


    Outro marco é lembrar do meu pai fazendo cálculos para pagar as contas e eu querendo ajudar. Também é claro na minha mente, existiram professores que influenciaram, porém na sexta série (hoje sétimo ano) a Professora Sirley e seus rascunhos monstruosos me deixaram muito bom em cálculo. E por último, meu tio, que é professor de matemática, me ajudou muito nessa escolha, hoje é a pessoa a quem mais devo esse estudo; e foi a bolsa que foi-me dada, então o mundo me preparou para isso. Lembrem-se: a matemática fazia parte da minha família e eu queria ser parte de tudo isso também. Hoje eu sei que a matemática é parte principal da minha vida e tudo que tenho devo a ela, pois vivo por ensiná-la… Enxergo-a de maneira diferente dos demais, vejo beleza, arte, criatividade e grandes impulsos na sua história. Fazer contas é parte de tudo isso, não o principal.

       Sobre a física é o fato de eu ser curioso mesmo, não gosto muito de explicar matérias e seus conteúdos, prefiro curiosidade mesmo.


2. Quem é seu maior ídolo e por quê?

D: Com certeza meu avô, Senhor Emílio Carrilho Del Monte, pois além de falar sobre honestidade, caráter, amor e família, dá o exemplo: casado há mais de 60 anos com a minha avó, a Dona Yraides, demonstrando esse amor até hoje com respeito. Esse senhor trabalha com seus 83 anos de idade e tudo que faz é pelos filhos e netos, na medida do seu possível, com muita humildade. Com certeza, se eu fosse escrever um livro de amor, seria sobre ele e minha avó numa sociedade atual, onde está proibido amar e o amor está relacionado com idiotice. Tenho contraexemplos lindos…


     Sobre ídolos de fama, vou citar nomes e o resto é consequência: Charles Chaplin, Roberto Bolãnos (Chavez), Ayrton Senna, Renato Russo, Cazuza, Steve Jobs, Prandini Ricieri (professor), Isaac Newton, Sophie German e Hypatia de Alexandria (ambas incríveis matemáticas), entre outros...


3. Numa realidade hipotética, qual carreira você seguiria se não fosse professor?

D: Acredito que gostaria de ser uma espécie de escritor poético e músico, relacionado com a arte com certeza… Pensamento livre e com tempo para pensar e refletir.


4. Qual sua opinião sobre viagem no tempo? Seria possível?

D: Não só acredito, como Albert Einstein realmente teorizou suas possibilidades na teoria da relatividade, apenas pelo fato de imaginar uma possível velocidade próxima da luz. Infelizmente não é possível sem a tecnologia necessária para isso ainda. Imagine como seria maravilhoso surfar no espaço e tempo e observar eventos históricos com seus próprios olhos? A teoria da relatividade diz que avanço no tempo é apenas para o futuro, mas vai saber…

5. Você acredita que exista universos paralelos? Como você imagina seu “outro eu”?

D: Sobre acreditar é complicado, ouço muito sobre multiverso e os atuais avanços nessa pesquisa, porém não tenho opinião formada. Se caso exista, eu penso em vários “eus”: em um universo onde eu não teria terminado com a minha primeira namorada, estaríamos casados e com filhos; em um outro, eu não teria decidido estudar e teria focado mesmo no trabalho, seriam outras responsabilidades e verdades; um em que eu teria acreditado na minha música e fracassado (ou teria dado certo)… Mas, se caso exista esse tipo de teoria e, consequentemente vários Denys, acredito que de certa forma, estamos ligados com essa outra realidade e os sentimentos se conectam, fazendo com que nossas experiências não são simplesmente vividas, mas sim trocadas em algum tipo de conexão.

6. Qual sua ligação com a música? O que ela representa na sua vida?

D: Música é movimento, é trilha, dá significado para um momento, representa o que a alma está sentindo, o que o coração não consegue falar e o que a cabeça quer gritar. Minha ligação é como qualquer outro, porém representa tudo. Somos marcados por ela! Pense quando você ouve uma música e incrivelmente lembra com detalhes do que aconteceu ou o que você estava pensando, quantas coisas na vida fazem isso?

7. Já houve algum aluno que mudou sua perspectiva sobre algo ou te inspirou?

D: Existiram vários e em muitos momentos! Antes de ser um bom professor, penso que tenho que ser um bom “aprendente”. E as pessoas com quem mais aprendo são os alunos. Existem sim aqueles que marcam e, de alguma maneira, parece que conhecemos a vida inteira e gostaríamos que tal relação e afetividade continuasse sempre. Um momento que me marcou foi uma turma ao qual eu dava nota através de prêmio em dinheiro, e a nota mensal vinha dessa atividade. Porém era dinheiro fictício, onde cada atividade valia um valor e, ao final do bimestre, eu contava o dinheiro e dava a nota. Tal turma (que me deixou no mínimo perplexo!) juntou todo o dinheiro e dividiu entre eles de forma igual, para que ninguém fosse prejudicado independente de seus esforços individuais. Aquilo foi uma espécie de altruísmo, pois nunca, em momento algum, imaginei que alunos da sexta série pensassem em tal colaboração. Numa atividade individualista, competitiva e capitalista, aprendi que a maldade no mundo é ensinada, e não inata.

8. Algum aluno já te disse algo engraçado ou absurdo? Comente.

D: Vários. Porém, o que vou deixar para registro aqui, foi certa vez em que estávamos no período das manifestações dos R$ 0,20, e um movimento aconteceu entre os alunos, no geral foi o criticismo e o questionamento que aumentaram de forma abrupta. Então, enquanto eu resolvia um exercício, um aluno perguntou se eu estava indo as manifestações e eu, sendo sincero, disse que nem entendia o porquê das reivindicações e tais agressividades. O aluno retrucou, dizendo que eu não estava ajudando o país. Eis a minha resposta…
"Dou aula há 10 anos, em um país em que professor é visto como coitado, não é valorizado de maneira alguma. Estudo mais do que qualquer um que conheço. Inclusive, estão quebrando lojas de trabalhadores sem nem saber o verdadeiro motivo. Eu acredito no país através dos meus alunos, onde eu não posso mudar o mundo, mas posso iluminar a mente de um que vai. E minha revolução, senhor, é silenciosa, aquela que acaba por dentro e com ideal, inteligência e trabalho duro. Gritar, espernear e quebrar coisas não assusta ninguém, apenas mostra rebeldia e ignorância"

     Então ele sentou, pediu desculpa e terminamos a conta.


9. Falando sobre "Denys pessoa" (não que professor não seja pessoa, mas...) qual é o significado de sua tatuagem mais recente (asas nas costas)?  

D: Vários. Um deles é o significado de liberdade, como se eu pudesse voar e ir onde quiser e quando quiser, sem a limitação do espaço. Existem algumas que são meio místicas (apesar de meu ceticismo ser quase 99%), porém, tem certas coisas que ajudam no nosso cotidiano. “Asas marcadas em minha pele representam minha liberdade”.

10. Sabendo
sobre seu lado poeta, faça uma reflexão envolvendo as palavras: Universo, vida, futuro/esperança.

D: A palavra esperança no sentido de "acreditar", e acreditar sempre no que você faz de modo verdadeiro. Alinhar os pensamentos e as atitudes na vida de forma positiva. Tenho em mente que tudo que você manda para o universo, ele devolve com a mesma intensidade. Tome cuidado no que pensa, pois pensamento viram palavras e palavras viram atitudes. Sobre futuro, penso que a cada segundo que passa, ele vira presente e depois passado, então é tirar a agonia e o peso dessa palavra.




Autoras: Kethellin Alcântara e Elaine Cristina

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